Os Judeus no Sul do Brasil


Em 1891, o barão judeu Maurice de Hirsch fundou a Jewish Colonization Association (ICA) com o objetivo de retirar os judeus da Europa Oriental e assentá-los onde pudessem ter uma vida melhor.

Em 1903, a ICA adquiriu uma área de 5.700 hectares no município gaúcho de Santa Maria para estabelecer a colônia agrícola de Philippson. No ano seguinte, chegaram as primeiras 38 famílias da Bessarábia. Cinco anos depois, a ICA comprou mais 93.850 hectares entre Erechim e Getúlio Vargas
e, da colônia de Quatro Irmãos, surgiram quatro localidades: Barão Hirsch, Baronesa Clara, Pampa e Rio Padre.


Orquestra de Baronesa Clara, formada por jovens moradores da Colônia,
ajudou a manter uma tradição musical que é antiga no judaísmo. Foto de 1929.

Até 1928 chegaram cerca de 280 famílias judias no Rio Grande do Sul. Na década de 30, especificamente entre 1934 e 1937, o estado passou a receber um número significativo de judeus que fugiam das perseguições nazistas.
Poucos chegaram após a guerra, como sobreviventes do Holocausto. O fluxo ficou seriamente restrito a partir de 1937, quando uma legislação criada pelo Estado Novo estabeleceu um sistema de cotas para a entrada de estrangeiros.

Anita Brumer, pesquisadora da presença judaica no Rio Grande do Sul, enfatiza que, diferentemente de imigrantes de outras origens que vieram para o Brasil movidos por motivos econômicos, entre os judeus da Rússia czarista - ashkenazi - não predominava o sonho de “fazerr a América”, isto é, fazer fortuna e depois voltar. “Além dos problemas econômicos, comuns aos emigrantes de outros países, os judeus sofriam perseguições religiosas e sociais em alguns países europeus onde se concentravam em maior número”, diz. Ela relata, por exemplo, a expulsão de Moscou (em 1891), no último ano do governo do czar Nicholau II, como parte do plano de “russificação” que incluía a prática compulsória da religião russa ortodoxa. Os imigrantes trazidos pela ICA - além de alguns que vieram por conta própria - dedicavam- se à agropecuária, embora a maioria fosse proveniente das cidades, sem nenhuma prática nessa atividade. Para Anita, “este foi um importante fator, embora não o único, a explicar o insucesso das colônias agrícolas judaicas.

Judeus Ashkenazim e Sefaradim

A colonização judaica do Rio Grande do Sul foi composta majoritariamente por ashkenazi, que deriva de Aschkenaz, Alemanha, e designa judeus da Europa Central e Oriental, principalmente da Polônia, Rússia, Lituânia, Romênia (onde se inclui a Bessarábia) e Alemanha. Falavam idish, língua composta de elementos hebraicos, germanos e eslavos. Em pequeno número também vieram os de origem sefaradim, de Sefarad, Espanha, cuja primeira geração de imigrantes veio de países como o Egito, Turquia, Grécia e Marrocos. O idioma era o ladino, um espanhol arcaico.

A ICA oferecia a cada família de 25 a 30 hectares de campo e mato, instrumentos agrícolas, duas juntas de bois, vacas, um cavalo com carroça, pelos quais deveriam pagar 5 contos de réis em um prazo de dez a vinte anos. Inicialmente, foram alojados em precárias casas de madeira de 35 metros quadrados, com teto de zinco, sem vidraças e com frestas entre as tábuas.

(Extraído do texto Brasil 500 de Dóris Fialcoff  in  www.sinpro-rs.org.br/extra/ago99/brasil.htm)

Os klienteltshikes e os gravatnikes

Um capítulo à parte, na história da imigração judaica, é o das profissões que os que aqui chegaram exerceram inicialmente, e que deixaram traços lembrados até hoje pelos habitantes mais velhos de Porto Alegre. Figuras como o klienteltshik e o gravatnike povoavam não só as ruas do Bom Fim, mas de toda a cidade.

O klienteltshik era o homem que batia de porta em porta, vendendo a prestação para a sua clientela.
Os judeus foram os primeiros a adotar esse sistema em Porto Alegre. Geralmente ofereciam tecidos e, em alguns casos, roupas feitas. Cada um deles tinha a sua "zona de trabalho", que os demais respeitavam. Organizados, chegaram a ter uma cooperativa, que funcionava na Oswaldo Aranha.

Outra atividade comum era a venda, pelas ruas, de miudezas tais como rendas e bordados. Como eram artigos mais baratos, costumavam ser pagos à vista. Já o gravatnike levava, na mão, algumas gravatas, que oferecia aos passantes. Essas atividades eram a alternativa para os que não tinham uma profissão definida, ou para os recém-chegados. Os que praticavam algum trabalho artesanal, tratavam de se estabelecer em seu ramo.

Foi o caso de vários marceneiros, que começaram com suas pequenas oficinas e terminaram transformando a Oswaldo Aranha em uma sequência de lojas de móveis. Ou de alfaiates que se tornaram donos de grandes confecções.

(www.riogrande.com.br/historia/colonizacao7.htm)

Para saber mais:
http://sibra.sites.uol.com.br/TUDO.htm
http://www.corag.rs.gov.br/revistas/vox/003-pre/entrevista.html
http://www.jewish.net/links/Communities/South_America/Brazil/index.shtml



Foto publicada em Caminhos da Esperança / Moacyr Scliar. - Porto Alegre: Ética Impressora, 1986.
Agradeço a colaboração de Paul Beppler.

 
Volta para os Tipos Regionais
Volta ao Topo Vai para outras Etnias