Outras Etnias


A Região Sul teve sua formação étnica complementada por uma infinidade de outras raças, que embora em proporções bem mais reduzidas que os portugueses, alemães e italianos, contribuíram a seu modo para a consolidação do espírito progressista que hoje caracteriza os três estados sulinos.
 
 Tradicional dança polonesa em Criciúma, SC. - Foto: Catarina Rüdiger

Os poloneses formam o grupo mais numeroso de imigrantes do Paraná. Eles começaram a chegar em 1871, distribuindo-se principalmente pelos arredores de Curitiba e pelo centro-sul do estado, formando colônias em Mallet, Cruz Machado, São Matheus do Sul, Irati e União da Vitória. 
 

Crianças do grupo ucraniano Soloveiko,
em Prudentópolis, SC,
apresentando-se com suas bandurras,
instrumento de 55 cordas e som suave.
Foto: Rogério Monteiro

Embora também sejam eslavos, os ucranianos (ver quadro abaixo) diferenciam-se dos poloneses pela língua, costumes e origem histórica. Povo agrícola, começaram a chegar em 1891, trazendo o estilo bizantino de suas igrejas, seus trajes bordados, comidas e danças típicas. Em Santa Catarina, os descendentes de eslavos habitam cidades próximas à fronteira com o Paraná, como São Bento do Sul e Mafra.
 

Ucranianos: Memorial do Parque Tingüi, Curitiba, Paraná - Foto: Iolita Cunha
Grupo Folclórico Ucraniano Vesná, 
Mafra, Santa Catarina - Foto: Iolita Cunha

Instalados desde 1911 na região de Castro, no Paraná, os holandeses conseguiram destaque com a industrialização de derivados do leite. Seus principais núcleos estão localizados em Carambei, Castrolândia e Arapoti, mas eles são poucos numerosos, assim como outras etnias de origem germânica, como austríacos e suíços.
Treze Tílias, em Santa Catarina, é uma exceção. A cidade é formada quase que exclusivamente por austríacos e seus descendentes, possui arquitetura típica e até um consulado daquele país.
Os povos anglo-saxões são representados pelos ingleses, que chegaram ao Paraná no início do século XX para a instalação de ferrovias na região norte do estado e deixaram alguns descendentes na região de Londrina.
Atualmente, os japoneses são os que mais imigraram para o Brasil. O início da sua entrada no país data de 1908, acentuando-se a partir de 1920 e depois da segunda guerra mundial. Destinaram-se inicialmente a fazendas de café no Norte do Paraná, mas depois espalharam também colônias no litoral, principalmente em Paranaguá, Morretes e Cacatu. Em Santa Catarina, 30 famílias de japoneses vivem no município de Frei Rogério, onde cultivam hortaliças e as tradições do seu país.
A reunião de todas estas etnias, ao longo dos séculos, compôs a alma do moderno habitante da Região Sul. Um ser humano ainda hoje pouco definido, multifacetado, que aos poucos vai criando uma identidade única, destacando a terra onde vivem no canário nacional. São eles os responsáveis diretos pela inquestionável diferença cultural, econômica e social existente entre a Região Sul e o restante do país, arautos e engrenagens propulsoras de um Brasil diferente.

Texto de Rogério Monteiro


Um Brasil Diferente / Rogério Monteiro in Revista Mares do Sul, N.º 31, 49-50, Santa Catarina: Editora Mares do Sul.,abril/maio de 2000.
Os Ucranianos


Grupo Folclórico do Centro Brasileiro de Estudos Ucranianos de Curitiba

Quando se fala em imigrantes no Brasil, a primeira lembrança é a de portugueses, italianos, alemães ou japoneses, que realmente formam a maioria daqueles que, vindos de outras terras, aqui se estabeleceram, criaram raízes e muito ajudaram a fazer deste país uma nação. Mas acontece que, na realidade, esses povos são apenas uma parcela dos muitos que para aqui vieram trazendo sua força de trabalho, seus conhecimentos e sua cultura, e que, embora formando núcleos menos numerosos, fizeram do Brasil a sua pátria e têm retribuído com amor e trabalho a maneira como ele os recebeu.
Os ucranianos estabelecidos em sua grande maioria no Estado do Paraná, formam uma comunidade coesa que, apesar de composta atualmente, na sua quase totalidade, por brasileiros natos (mais de 90%), procura manter bem viva a lembrança, os costumes e a tradição de sua terra de origem, isto sem querer dizer que não sejam ativos participantes dos problemas comuns que a todos nós dizem respeito.
A chegada dos primeiros ucranianos ao Brasil é um fato que nunca ficou bem determinado, devido à total falta de documentação.
A maioria dos autores fixa o ano de 1895, quando chegou ao Paraná a primeira grande leva de colonos vindos da Galícia (na região de Lvov, próxima à fronteira com a Polônia), embora existam afirmações de grupos de ucranianos vindos para cá em 1871 e 1876.
No entanto, ao que se pode deduzir, esses colonos se diluíram entre os habitantes locais e deles só restam seus nomes de família
na lista de imigrantes eslavos, que encontra no arquivo da Ucrânia.


Nas horas de lazer, os lavradores deixam o campo e sse juntam para tocar músicas da pátria de origem.
Eles fabricam o próprio instrumento.


Os ucranianos chegaram ao Estado do Paraná em três etapas distintas:
A primeira, que data do final do século XIX, foi feita por lavradores que emigraram da Galícia e de Bukovina por razões sócio-econômicas; a 
segunda se deu por questões políticas, quando, no início dos anos 20 (século XX), a Ucrânia Ocidental foi posta sob a soberania da Polônia, fato que ocasionou um grande êxodo de ucranianos para os países das Américas, vindo uma parte para o Paraná; e a terceira, que se constituiu no maior movimento emigratório ucraniano, aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, quando mais de duzentos mil ucranianos vieram para países americanos, sendo que de novo foi o Paraná o Estado preferido por eles.

Pratos típicos ucranianos 

Apesar de os censos oficiais serem incompletos, pois os ucranianos que aqui chegaram eram registrados nos portos de entrada como austríacos ou poloneses, de acordo com os passaportes fornecidos pelos governos de ocupação das suas regiões de 
origem, calcula-se que o grupo étnico ucraniano é constituído de 200 mil pessoas, sendo que 78% delas vivem no Paraná. 
Aí são encontradas comunidades ucranianas em Prudentópolis, onde elas constituem a maioria da população (cerca de 76%), Curitiba, Apucarana, Guarapuava, Dorizon, Ivaí, Irati, Ponta Grossa, Pato Branco, Pitanga, Roncador e União da Vitória, entre 
outras. Na sua maioria, os imigrantes vindos para o Paraná dedicaram-se à agricultura. Experientes cultivadores do trigo foram 
eles os primeiros a instalar no estado a indústria moageira. Mas não se restringiram a essa cultura, pois passaram a exercer atividades nos setores do cultivo do café, do algodão, da hortelã, etc. A outra parte, que não se dedicou à agricultura, voltou-se para diversas atividades industriais, destacando-se sobretudo no fabrico de móveis, em atividades empresariais, em 
especialidades técnicas e no exercício de profissões liberais.
 
 

Ao longo dos cem anos de colonização no Estado do Paraná, os ucranianos foram os responsáveis pela implantação de novas lavouras e novos métodos de cultivo da terra.
Durante o período, houve uma progressiva integração com outros grupamentos étnicos, o que não impediu, no entanto, que os 
costumes e tradições trazidos de 
seu país de origem se mativessem intactos.
Grupos folclóricos da Igreja de Vila Guaíra, em Cutitiba.

Oriundos de um país rico em tradições artísticas, com um folclore dos mais admirados em toda a Europa, os ucranianos que aqui chegaram não poderiam fugir à herança cultural recebida de seus antepassados. E, à proporção que o novo modo de vida e as circunstâncias o foram permitindo, eles reviveram essas tradições, dando novo colorido à já rica cultura popular da terra que escolheram como sua.
As danças e as canções populares ucranianas têm origem geralmente nas manifestações de antigos cultos religiosos, particularmente nos ligados às manifestações da natureza. A dança revela tendências para o espaço, intimamente ligada às vastas planícies do país. Elas se caracterizam pelo ritmo cheio de vida, de coragem e de confiança, extravasando uma alegria exuberante. Quanto às canções, apresentam-se como uma manifestação perfeita da continuidade da vida nacional desde os tempos pré-históricos, pagãos, até o momento presente.
 
 

A Igreja Católica - tanto a 
Romana quanto a Ortodoxa - 
teve importante papel na colonização ucraniana.
Em torno das igrejas e sob a liderança dos padres, as cidades foram sendo construídas, as 
lavouras desenvolveram-se e superados os obstáculos.

Mas, com certeza, o que melhor ilustra os sentimentos ucranianos para a beleza e forma é a pessanka – a arte de colorir ovos pascais. É a professora Eugênia Mazepa, da secretaria do Estado do Paraná, que nos fala dessa antiga manifestação da arte ucraniana.
A pessanka, palavra derivada do verbo pessaty (escrever), data dos tempos do paganismo. Simboliza o renascimento da terra na primavera, com sua promessa de boas-novas. Com o advento do cristianismo, ela passou a simbolizar a Ressurreição – promessa 
de um mundo melhor e mais feliz.
Cada região da Ucrânia tem seus desenhos básicos para a pessanka, bem como símbolos e o seu significado, que variam de 
aldeia para aldeia. No entanto, nunca duas pessanky são idênticas. Elas podem ter vários significados, como por exemplo, um 
sinal de amor de quem presenteia, ou um poder curativo, ou ainda o poder de proteger uma casa contra o fogo e a destruição. 
Mas, na maioria dos casos, ela é considerada uma espécie de talismã ou amuleto. Talvez uma das razões que propiciaram o 
sucesso dos ucranianos nas terras brasileiras.


Aula de pessanka na casa da família Mazepa. Foto de Jorge Serathiuk

Os estudos sobre a vinda dos Ucranianos para o Brasil, contidos no livro “Os Ucranianos” de Oksana Boruszenko, professora da Universidade Federal do Paraná e descendente de ucranianos, muito ajudaram ao autor a fazer esta reportagem.

Texto de Tarlis Batista


Paraná: Viagem à Terra dos Ucranianos / Tarlis Batista in Revista Geográfica Universal, N.º 134, 29-35, Rio de Janeiro: Bloch Editores S.A.,Janeiro de 1986.
Fotos: Sérgio de Souza
Foto da Aula de pessanka: Jorge Serathiuk
 
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