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A colheita do café ainda é manual e nela tem papel destacado a mulher, enquanto os homens trabalham com as máquinas, nas tarefas mais pesadas. No paraná, o café determinou o aparecimento de cidades como: Londrina, Maringá, Arapongas, etc. "A minha xícara de café é o resumo de todas as coisas que vi na fazenda e me vêm à memória apagada...
Cassiano Ricardo, Café Expresso
Somente no final do século XVIII é que a economia sulina ligou-se efetivamente ao mercado colonial brasileiro. Com a mineração, no século XVIII, o gado muar tomou-se o meio básico de transporte interno e o charque passou a alimentar toda a escravaria das áreas de produção para exportação, principalmente as produtoras de açúcar e café.
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Quando, no começo do século XVIII, o café foi introduzido no Brasil, a infusão feita com os frutos desta planta já era conhecida e apreciada na Europa, onde rivalizava com o chá e outras bebidas estimulantes. Não sabemos com segurança a origem do café que veio para cá, nem a data exata de sua introdução em nosso pais. Hipóteses sem confirmação documental indicam Meio Palheta e o ano 1727 como o protagonista e a data deste fato. O Café Fluminense e Vale-paraibano - Os requisitos geoclimáticos do café colocam-no na categoria de um vegetal "exigente". As temperaturas não podem ser muito elevadas nem muito baixas; o tipo do solo e sua qualidade nutritiva são bem determinados; os índices de precipitação pluviométrica devem ser regulares e bem distribuídos pelo ano. Trata-se, ao mesmo tempo, de uma planta que demora a dar seus primeiros resultados produtivos (em geral, cinco anos), ao contrário da cana-de-açúcar, por exemplo, cuja primeira safra já se dá no primeiro ano após o plantio. O Café em São Paulo - "A superioridade manifestada pela e economia cafeeira no Primeiro Império e na Regência, transformou-se numa força avassaladora no Segundo Império." Foi exatamente durante essa época, correspondente à segunda metade do século XIX, que o café encontrou, no Brasil, a zona ideal para o seu cultivo: o oeste paulista, na região que vai de Campinas a Ribeirão Preto. Ali, onde até meados do século passado desenvolvera-se uma lavoura canavieira de importância, começaram a surgir, plantados na terra roxa, os grandes cafezais. "Em 1836," escreve Sérgio Buarque de Holanda, "Campinas produz apenas 8 801 arrobas de café e ocupa o nono lugar entre os principais municípios cafeeiros . . . Em 1854, com 335 550 arrobas, quase quarenta vezes mais, passa a quarto lugar, logo depois de Bananal, Taubaté e Pindamonhangaba. Limeira, por sua vez, que não figurava entre os produtores de café recenseados, situa-se, dezoito anos depois, com 121 800 arrobas, em nono lugar, acima de Paraibuna, Vila Bela, Moji das Cruzes e Guaratinguetá," estas, cidades vale-paraibanas. Segundo Roberto Simonsen, as primeiras fazendas de café, tanto no vale do Paraíba, como no interior de São Paulo, não possuíam mais do que 50 mil pés. Aos poucos, principalmente nesta última área, surgiram fazendas que ultrapassavam a casa dos 400 ou 500 mil cafeeiros, para, mais tarde, chegarem a sobrepujar a casa dos 1100 mil pés. Caio Prado indica que a maior fazenda de café do Brasil (a São Martinho, em Ribeirão Preto), chegou a possuir mais de três milhões de plantas. O latifúndio de café seguia muito de perto o velho modelo do engenho açucareiro nordestino; tendia à auto-suficiência, com produção de bens de consumo local (agricultura de subsistência), possuía sua "casa grande", sua "senzala" (para os escravos) ou "colônias" (para os trabalhadores livres), suas oficinas de pequenos serviços, suas criações, etc. O desenvolvimento das vias férreas, a partir da década de 1850 (como a São Paulo Railway, futura Santos a Jundiaí) não só diminuiu esse isolamento, como proporcionou ainda maior impulso ao café paulista, facilitando o escoamento do produto. Nos últimos anos do século XIX, São Paulo já contribuía com quase a metade da produção global do país e as fazendas paulistas se constituíam em verdadeiras empresas no sentido moderno da palavra, com a utilização de máquinas agrícolas (arados, ventiladores, despolpadores e separadores de grãos) e com a sensível elevação do grau de divisão do trabalho, surgindo várias tarefas especializadas e aumentando a produtividade. As duas importantes áreas de produção de café a fluminense e vale-paraibana de um lado, e a do oeste paulista, de outro - apresentavam-se assim com características diversas: escravismo intransigente nas primeiras e tendência a substituir o trabalho escravo pelo assalariado na segunda; aplicação de métodos rudimentares e essencialmente manuais na primeira e introdução de mecanização na segunda; baixo índice de especialização na primeira e aprofundamento da divisão do trabalho na segunda; os cafeicultores fluminenses e vale-paraibanos constituindo-se em verdadeiros latifundiários tradicionais, patriarcais, semelhantes à aristocracia açucareiro nordestina da época colonial, e os do oeste paulista já apresentando um tipo social mais próximo de uma burguesia agrária, empresários no sentido capitalista do termo. Resta-nos lembrar que, ao contrário das atividades econômicas que marcaram o período colonial, cujas fontes de financiamento do capital inicial foram externas (comerciantes holandeses e alemães, principalmente), no caso do café aconteceu o inverso, e as lavouras foram financiadas fundamentalmente com recursos internos . No caso fluminense esses recursos foram obtidos principalmente de comerciantes cariocas, ligados ao mercado local ou que se dedicavam ao transporte de mercadorias (caravanas de mulas), e mesmo de um pequeno capital acumulado através das velhas lavouras de subsistência da região, cujo produto era vendido às áreas de mineração. No oeste paulista houve, da mesma forma, certa acumulação de capitais graças às lavouras de açúcar e algodão e, principalmente, à criação de cavalos e mulas, cujo centro principal era a cidade de Sorocaba. A utilização desse capital disponível foi fundamental para a formação das grandes fazendas de café dessa região. |
Brasil - O Livro dos 500 anos / Vários Autores - São Paulo: Editora Abril, 1996.
Brasil História / Antonio Mendes Jr., Luís Roncari, Ricardo Maranhão - São Paulo: Digitalmídia Editora Ltda, 1995.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural - São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1988.
Ilustrações de José Lanzellotti escaneadas do livro: Brasil, Histórias, Costumes e Lendas.
Pilagem do café: Litografia de Ribeyroles (Brasil Pitoresco).
Café, óleo de 1934, de Cândido Portinari