Os Barqueiros do São Francisco



No baixo São Francisco existem trechos perigosos, temidos pelos barqueiros. Esses trechos inspiraram um poeta:
   O cão nasceu na Tabanga
   criou-se Sambambira
   morou na ponte Mofina
   veio morrer nas Traíras.
O cão é o diabo e dizem que só podia ter nascido na Tabanga, lugar traiçoeiro, onde muitos têm morrido.

Os mais variados tipos de barco deslizam suavemente no São Francisco: as canoas taparicas (monóxilas, feitas de uma peça), barcos, botes de pesca, chatas (barcos com dois mastros), canoas de tolda ou barco de toldo.
O toldo é um compartimento fechado, onde há beliches. Há canoas de um só toldo, na popa (atrás) e outras de dois toldos.
As barcaças são navios de alto mar. São usadas tanto no rio como no mar.

Às vezes, quando termina a feira, nas cidades ribeirinhas, das margens do São Francisco, ao meio-dia do sábado, centenas de velas enfunadas pelo vento cobrem o rio.
Os barqueiros, depois da feira, procuram regressar aos seus portos e ilhas de origem.
As velas parecem borboletas, das mais variadas cores, ondulando sobre as águas do rio.
Este espetáculo impressionou D. Pedro II que chegou a escrever um soneto: “As borboletas do rio São Francisco”.
 
 

Rio São Francisco: "O Velho Chico"

Corria o ano da graça de 1501, quando os descobridores portugueses tocaram a foz de um grande rio. Era o dia 10 de outubro, dedicado a São Francisco Borja. Daí o nome: rio São Francisco. Também chamado, carinhosamente, pelo seu povo de “O velho Chico”. 
No século 16 chegaram os primeiros povoadores da região do São Francisco. Vinham da Bahia, de Pernambuco e São Vicente. Mas a conquista do rio só foi completada em 1697, pelos paulistas – os últimos a chegar.
Atraídos pelo ouro, os paulistas chegaram até a região do São Francisco. O bandeirante Garcia Rodrigues Paes começou a lavar o cascalho nos riachos da serra de Sabarabuçu, procurando ouro.

A região da foz era habitada por índios. Havia muita fartura: muito peixe, muito camarão, muito marisco. Os índios não queriam sair desta região. Lutaram e foram massacrados pelos portugueses.
Em 1560 começou a verdadeira conquista. A cidade de Penedo, nas margens do rio São Francisco, foi construída, depois de muitas lutas, sob o sangue dos índios caeté.
O curso do rio São Francisco é avaliado em 3.161 km. Antes das estradas, era o rio São Francisco o traço líquido entre o Norte e o Sul do país. Por isso foi chamado – “O Rio da Unidade Nacional”.
Entre o médio e o baixo cursos do rio está localizada a imensa cachoeira de Paulo Afonso. Dominada pela técnica fornece energia elétrica para o Nordeste.
O Nilo brasileiro: O São Francisco é um rio de planalto, sujeito a enchentes. Na vazante, a terra adubada pelo húmus, facilita as plantações, que vão alimentar o barqueiro, os beiradeiros das margens do rio. Os amigos do “velho Chico”.
 



Brasil, Histórias, Costumes e Lendas / Alceu Maynard Araújo - São Paulo: Editora Três, 2000
Ilustrações de José Lanzellotti escaneadas do livro: Brasil, Histórias, Costumes e Lendas.
 
 
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