Os cantos de trabalho são muitos numerosos no interior e usados em várias formas de serviços, como para vender diversos artigos, nas plantações, nas colheitas e em determinados ofícios. Podem ser individuais ou de grupo. Entre os individuais temos o pregão, melodia simples usada pelos vendedores ambulantes para anunciar sua mercadoria. Entre os de grupo temos os aboios, para reunir o gado nas fazendas; o canto dos barqueiros do rio São Francisco, assim como o dos ferreiros, vendedores em geral e dos mutirões de colheita.
Bate, bate o ferreiro
Noite e dia sem parar
Bate, bate o dia inteiro
Até nas noites de luar. |
ou
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Triste é meu destino
Trabalhar e só trabalhar
Sem o descanso necessário
Para o sustento ganhar. |
Aboio:
Canto sem palavras, marcado exclusivamente em vogais, entoado pelos vaqueiros quando conduzem o gado. Dentro desses limites tradicionais, o aboio é de livre improvisação, e são apontados os que se salientam como bons no aboio. O canto finaliza sempre por uma frase de incitamento à boiada: ei boi, boi surubim, ei lá.
O canto dos vaqueiros, apaziguando o rebanho, levado para as pastagens ou para o curral, é de efeito maravilhoso, mas sabidamente popular em todas as regiões de pastorícia do mundo.
José de Alencar evocava-o: “O aboiar dos nossos vaqueiros, ária tocante e maviosa com que eles, ao pôr-do-sol, tangem o gado para o curral, são os nossos ranz sertanejos... Quem tirasse por solfa esses improvisos musicais, soltos à brisa vespertina, houvera composto o mais sublime dos hinos à saudade”.
No sertão do Brasil o aboio é sempre solo, canto individual, entoado livremente. Jamais cantam versos, tangendo o gado. O aboio não é divertimento. É coisa séria, velhíssima, respeitada. Abóia-se no mato, para orientar a quem procura. Abóia-se sentado no mourão da porteira, vendo o gado entrar. Abóia-se guiando o boiadão nas estradas, tarde ou manhã.
Serve para o gado solto do campo e também para o gado curraleiro.
Aboio cantado, aboio em versos:
J. de Figueiredo Filho (O Folclore no cariri, Fortaleza, 1962) dedica o cap. V ao aboio em versos, poemas de assunto pastoril, mesmo improvisados.
Serão de relativa modernidade porque o aboio nordestino, secular, típico, legítimo, não tinha letra, constando unicamente de uma monodia, apoiada numa vogal, espécie de jubilatione do canto gregoriano, destinada a tanger o gado.
Essa modalidade, de origem moura, berbere, da África setentrional veio para o Brasil, possivelmente, da ilha da Madeira, dos escravos mouros aí existentes.
Em Portugal existe esse aboio cantado, versos descritivos, líricos ou satíricos.
Registrou Gonçalo Sampaio (Cancioneiro Minhoto, XXII, Porto, 1940): “Nas vessadas de maior importância, quer dizer nas lavradas dos campos mais extensos, é de antiqüíssimo costume minhoto incitar o gado cantando. Chama-se a isto aboiar... Por via de regra não tem letra que vá além das exclamações ei, boi! ei lá, boizinho! Todavia numa ou noutra localidade adaptam-lhe excepcionalmente dísticos, em que se pedem cigarros, vinho ou petiscos para o homem do arado”.
Serenga:
Canto que os remeiros “Irmãos da Canoa”, por ocasião da festa do Divino Espírito Santo (Tietê, São Paulo), fazem quando remam para o “Encontro” festivo das duas bandeiras e irmãos do rio abaixo e do rio acima.
O canto é sem palavras e dá-nos a impressão melódica do cantochão. Possivelmente o canto ajude a ritmar as remadas. Estas, em cada barco, são também ritmadas pelo bater de pé do proeiro, mas a Serenga não deixa de ter uma função facilitadora e sincrônica do esforço despendido no remar.
(Alceu Maynard Araújo, informação especial, 9-XI-1951, São Paulo).
Canto das Plantações de Arroz
O Arroz é boa lavra
Eu vô mandá culê,
Na entrada do verão
Eu vô mandá vendê,
Assim diz o lavradô,
Eu não vô prantá arroz
Pra culê sem meu amor.
Meu pezinho de milho verde
Me esconda na vossa sombra
Quando estô mais meu benzinho
Eu não tenho onde m’esconda.
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Você diz que me quer bem
Eu também quero você,
Quero te bem toda vida
E você só quando me vê.
Minha urupemba de ouro
Meu alecrim penerado
Nunca chorei por amor
Mais por ti tenho chorado.
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