A Divisão de Informações |
Os programas de rádio do Birô eram produzidos na perspectiva do programa de guerra psicológica do governo estadunidense e era dirigido por especialistas em propaganda. Quando o Birô iniciou suas atividades, os Estados Unidos tinham apenas 12 estações transmissoras de ondas curtas para a América Latina, controladas por 6 empresas radiofônicas. Além disso, eram estações de pequena potência, se comparadas às rádios européias (inglesas, alemãs ou italianas) que transmitiam para a América Latina. Em virtude disso, a política do Birô consistiu em colocar os programas estadunidenses em estações locais latino-americanas, como a melhor forma de alcançar audiências maiores. Paralelamente, promoveu o aumento do número de estações transmissoras nos Estados Unidos, assim como sua potência. De duas maneiras o Birô procurou atingir o público ouvinte latino-americano: a partir de transmissões diretas dos Estados Unidos e por intermédio de estações locais. Um sem-número de programas ouvidos pelos brasileiros em seus rádios provinha do Birô. Era o caso de “A Marcha do Tempo”, “Rádio Teatro”, “Canções da América”, “Espírito da Vitória” e “Sim ou não”. O programa “A Marcha da Guerra” entremeava comentários informais às principais notícias do dia, além de entrevistar altas autoridades sobre a “perspectiva brasileira” a propósito da marcha da guerra.
Novidades naquele mesmo ano de 1943 foram: “Família Borges” (que colocava uma família brasileira nos Estados Unidos observando o estilo de vida estadunidense); “Barão Eixo” (que procurava responder à propaganda de rádio de Berlim, transmitida para o Brasil); e “O Brasil na guerra” (acentuando a contribuição brasileira na guerra aos aliados). Aqui, o Birô teve que enfrentar os mais realistas que o rei: o DIP proibia referências à participação da União Soviética na guerra, mas em nome da liberdade de informação, o Birô pôde incluir desde então notícias sobre a frente russa e sobre os acertos político-diplomáticos com os soviéticos. (DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – criado junto com o Estado Novo, com a finalidade de instrumentalizar a consolidação do regime ditatorial junto à opinião pública. O DIP tinha como tarefas não apenas a formação de imagens favoráveis ao regime junto à população brasileira, mas também o exercício de férrea censura, de modo a impedir qualquer crítica ao Estado Novo.) O Birô também preparava programas musicais (eruditos e populares) e de assuntos esportivos para os ouvintes brasileiros. Dentro de suas atividades normais, o Birô também promoveu a ida de diretores, técnicos e artistas do rádio brasileiro para estudar as técnicas e arte dramática dos Estados Unidos. Artistas do Rádio Nacional do Rio foram particularmente beneficiados com esse programa. Paulo Gracindo, já então um artista de popularidade acentuada, esteve nos Estados Unidos e voltou impressionado com a riqueza e a pujança do rádio estadunidense. O Birô também controlava sua própria produção e fazia “enquetes” por todo o país para verificar a aceitação de seus programas, assim como as preferências dos ouvintes, de modo a aperfeiçoar suas atividades. As autoridades policiais e militares brasileiras menos simpáticas à causa estadunidense preocupavam-se com essa ação persuasiva, mas pouco podiam fazer face às circunstâncias. A perspectiva estadunidense, tal como fora definida na “filosofia” do Birô, espalhava-se pelo país afora.
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Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana / Gerson Moura. - 1. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1984. - (Coleção tudo é história; 91)