Os Açorianos e Tropeiros


Tropeiros paulistas e imigrantes açorianos foram outros ingredientes a engrossar o caldo étnico do povo sulino, a partir das primeiras décadas do século XVIII. 
Foi a necessidade de abastecimento de carne e animais de carga para a região de Minas Gerais, durante o Ciclo do Ouro, que levou os tropeiros paulistas a inaugurar uma rota de transporte de gado entre o Rio Grande do Sul e Laguna, no litoral catarinense. Dali, os animais eram embarcados para São Vicente e São Paulo. Em 1728, Francisco de Souza Faria estabeleceu uma rota mais curta, ligando o Rio Grande do Sul a São Paulo através do planalto catarinense.
Os locais de pouso dos tropeiros deram lugar a povoados que acabariam por transformar-se em cidades, como Lages e Curitiba.
 
 O imponente mural de Poty Lazaroto, localizado na entrada da cidade paranaense de Lapa, homenageia a participação dos tropeiros na formação étnica e cultural da região.

Na metade do século XVIII, a Coroa Portuguesa decidiu promover a imigração de casais açorianos para o Sul do Brasil, com o objetivo de consolidar as fronteiras da colônia e ao mesmo tempo solucionar os problemas econômicos e demográficos do Arquipélago dos Açores. Entre 1748 e 1756, cerca de seis mil imigrantes espalharam-se pelo litoral catarinense, estabelecendo-se principalmente na Ilha de Santa Catarina, no povoado de São Miguel – hoje Biguaçu – e nas proximidades de Laguna. Dali, alguns foram orientados para o Rio Grande do Sul, onde se estabeleceram em Viamão e fundaram Porto Alegre.

O largo da Ordem, em Curitiba, abriga um monumento em forma de cabeça de cavalo, onde era a antiga parada de tropeiros. - Foto: Iolita Cunha O Grupo Arcos, de Biguaçu, SC, preserva as tradições e o folclore açoriano, usando trajes originais vindos do Arquipélago de Açores. Foto: Catarina Rüdiger 

O povoamento açoriano do litoral catarinense caracterizou definitivamente a região. Poucas das promessas da Coroa Portuguesa foram cumpridas, mas mesmo assim os colonos açorianos tomaram posse da terra, espalharam-se em “freguesias” e começaram a produzir produtos agrícolas como a farinha de mandioca – através de técnicas aprendidas dos índios carijós – café e algodão, já que as culturas de linho cânhamo, uvas e trigo, que praticavam em sua terra natal, não se adaptaram ao solo e clima catarinenses. Também aprenderam a pescar e a construir canoas com os índios, e a atividade consolidou-se através dos tempos como principal suporte da economia do litoral.
Dois séculos e meio depois, a cultura açoriana ainda é preservada em muitas cidades do litoral do litoral catarinense. Ela pode ser apreciada na arquitetura dos casarios coloniais de Laguna, Florianópolis ou São Francisco do Sul, na culinária baseada em frutos do mar, no rico folclore e até no sotaque carregado dos seus habitantes.

Texto de Rogério Monteiro


Um Brasil Diferente / Rogério Monteiro in Revista Mares do Sul, N.º 31, 40-42, Santa Catarina: Editora Mares do Sul.,abril/maio de 2000.

 
Volta para os Tipos Regionais
Volta ao Topo Vai para os Africanos