Os Tupinambá
Brasil Indígena - 500 anos de Resistência
Conhecidos também como Tamoio ou Tamuya, viviam numa faixa de litoral que ia da atual cidade de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, a Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro. "Tamoio" significa avô, o mais velho, e "Tupinambá" talvez signifique o primeiro, o mais antigo.
Os Tupinambá viviam sobretudo no estado do Rio de Janeiro, onde se calcula um total de 6 mil pessoas.
O conjunto da nação Tupinambá nessa região não deveria ultrapassar 10 mil pessoas.
Três traços principais marcavam este povo: a inteligência, a guerra e a abertura para o novo.
Eram pessoas muito curiosas e observadoras. Um frade francês, Claude d’Abbeville, que teve contato com um grupo Tupinambá, no Maranhão, escreveu: "Imaginava que iria encontrar verdadeiros animais ferozes, homens selvagens e rudes. Enganei-me totalmente.
 São grandes discursadores, possuem muito bom senso e só se deixam levar pela razão, jamais sem conhecimento de causa".
Gravura em cobre de Theodor de Bry. Dança ritual dos Tupinambá.
No centro, três pajés com mantos de penas, cintos e diademas. 
Atualmente existem apenas seis exemplares desse manto, todos 
em museus europeus. 
Esta agudez de percepção fez com que os chefes enviassem uma delegação à França para pedir ajuda ao rei, na sua luta contra os portugueses no Rio de Janeiro. Não querendo envolver-se na aventura de Villegaignon, marcada por conflitos religiosos, o rei da França recusou-se a ajudá-los. A delegação indígena voltou-se então para a classe dos comerciantes, com os quais conseguiu angariar navios e armas. Há poucas informações sobre essa viagem. Mas uma outra, realizada em 1613, nos foi relatada pelos capuchinhos franceses. A delegação Tupinambá foi recebida pelo rei Luís XIII no palácio do Louvre, ocasião em que fizeram um discurso ao rei em tupi.

A guerra era outro elemento fundamental da cultura tupinambá, na qual a bravura e a vingança exerciam importantes papéis. Considerada uma atividade sagrada, reservada para alguns, de acordo com sua idade, sexo e aptidões físicas. A bravura e o poder de um chefe eram medidos pelo número de inimigos mortos por ele. O inimigo morto era comido pela comunidade em um sacrifício ritual. Havia várias prescrições para esta cerimônia. Um prisioneiro medroso era excluído, pois o caráter fraco poderia ser incorporado por aqueles que o ingerissem. Havia, pois uma relação entre refeição sacrificial, bravura e coragem. O cativo, por sua vez, desafiava seus matadores, gritando que um dia seus parentes o vingariam. O maior desejo de um guerreiro era ser morto pelos seus inimigos.

Ao nascer, o menino era pintado de vermelho e de preto. Recebia como presentes unhas de onças e de gavião, para que tornasse um guerreiro valente, e um pequeno arco e flechas, símbolos de seu futuro belicoso.

Através da guerra que os adultos passam um modelo de comportamento para os mais jovens, apreendem conhecimentos de rituais mágico-religioso considerados essenciais na conduta masculina e, mediante o sucesso nas lutas, asseguram alguns direitos na comunidade, como o casamento com várias mulheres e o exercício da liderança.

Em consequência desses valores, a guerra é um fator de construção e realização da personalidade masculina tupinambá, na medida em que é entendida como fundamental, enobrecedora e justa, pois é um elemento de articulação social, põe em evidência o valor e poder da cada um e permite punir os inimigos.

A guerra repercute, portanto, ativamente no ritmo do desenvolvimento sociopsíquico da comunidade: transfere para fora do grupo as tensões, localizando no "outro" todas as causas dos problemas enfrentados.

Como a guerra só pode ser praticada com a aprovação de todos, ela também é fator de unidade social; durante a luta, geralmente corpo-a-corpo, o empenho de cada um afeta todos os guerreiros, já que se tem a clareza de que, se o inimigo não for completamente destruído, a sua vingança poderá ser fatal.
Portanto, é preciso unir forças para vencê-lo mortalmente.
(Adaptado de Fernandes, Floretan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. São Paulo, Edusp, 1970)

A aliança que os Tupinambá estabeleceram com os europeus - portugueses, franceses e holandeses - visava também o combate contra seus inimigos, os outros povos indígenas.
A sua extrema curiosidade e a atração pelo novo foram elementos fundamentais de sua cultura. Mal sabiam que essa abertura, que parecia uma atitude positiva, colaboraria para a perda de sua identidade e para a sua integração à nova sociedade.
 
 


Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000.
Gravura em cobre de Theodor de Bry: ilustra o livro de Jean de Léry. Historie d'une voyage fait en la terre du Brésil.
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