Jangadeiros


Jangada

A jangada veio da Ásia, daí seu nome: “xanga”. Foi trazida pelo povoador português, nos fins do século 16.
A jangada adaptou-se perfeitamente ao Nordeste brasileiro. A plataforma marítima e as condições de ventos ajudaram.

A frágil embarcação não usa pregos. É feita de madeira leve para ajudar a flutuação. Seis toros são usados: duas mimburras, dois bordos e dois paus do centro. Está formado o piso.
Sobre o piso são colocados os outros elementos: o banco da vela, carninga, salgadeira, banco de governo, calçador, espeque, calços da bolina, tolete, forras, cavilhas, mastro e tranca. Outras peças completam a jangada.

A jangada é usada na pesca. Quando bem cuidada, pode durar cinco anos.
Sua capacidade depende do tamanho. Uma jangada de 39 palmos de comprimento suporta com facilidade o peso de duas toneladas. A jangada “boa de remo” é a que tem os bordos mais baixos e os do meio mais altos. Entre os bordos e o meio a água passa com mais facilidade e ajuda a velocidade.

O Jangadeiro

Foram os primeiros brasileiros que recusaram a transportar negros escravos, vindo dos navios para serem vendidos como animais de trabalho.
Os jangadeiros são os heróis anônimos que aparecem nas cantigas populares.
 


 
Eles eram milhares, espalhados pelas praias de todo o litoral nordestino. Enfunando suas velas triangulares, claras - as cutingas, línguas brancas, no falar dos índios -, eram vistos em frotas numerosas, pescando a noventa, cem quilômetros distantes da costa. Hoje são bem menos, poucas centenas, habitantes de uma região que cada vez mais se limita, da mesma forma que diminui sua possibilidade econômica. Mas os jangadeiros, últimos heróis do mar, insistem teimosamente em conservar seu rude e romântico ofício, em Alagoas, em Pernambuco, na Paraíba, no Rio Grande do Norte e no Ceará, Estado em cujo brasão de armas a jangada aparece com destaque. A maioria deles abandonou já as tradicionais jangadas de pau piúba, de curta duração, trocando-as pelas de tábua, mais caras mas, em compensação mais duráveis. As jangadas de piúba não chegam, agora, em todo o Nordeste, à casa dos trinta, mas os jangadeiros, apesar das mudanças, das pressões externas ao seu meio, da desvantajosa competição, tentam manter os processes de navegação e pesca que herdaram dos avós de seus avós, e que sonham legar - sonho impossível - aos netos de seus netos.
Transposta a arrebentação, abre-se a vela ao
vento terral, que vai levar a jangada mar afora
As brincadeiras dos meninos estão sempre ligadas às coisas do mar. Isso talvez alimente as esperanças dos jangadeiros de que seu ofício secular encontre ainda seguidores nas gerações futuras.
Texto de Lincoln Martins
Revista Geográfica Universal – VASP – Bloch Editores S.A. – março de 1979
 
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Revista Geográfica Universal - Edição especial VASP - Rio de Janeiro: Bloch Editores S.A.,  março de 1979
Fotografias de Frederico Mendes
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