O Garimpeiro
(Tipo popular nas Regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste)


A denominação - garimpeiro - veio de um vocábbulo pejorativo - Grimpeiro.
Os grimpeiros subiam as grimpas no passado, fugindo ao fisco. Eram os grimpeiros, mais tarde garimpeiros. O nome hoje não tem mais o sentido pejorativo. É o nome de homens arrojados que lutam na extração de pedras preciosas, ou de ouro, nos terrenos de aluvião ou quebrando cascalhos para a busca de metais preciosos.

O garimpeiro muda a fisionomia da paisagem em que trabalha, por causa dos desmontes. A técnica extrativa ainda é muito primária. Muitos garimpeiros são explorados. Pagam taxas altas. Quando não tem ferramentas nem capital recorrem ao meia-praça, pessoa que financia e fica com 50% do que é encontrado. Existe também o sistema de sujeição: picuá-preso, a pessoa que faz o empréstimo tem o direito da "primeira vista", de escolher o que quiser e pagar o preço que impuser.

Faiscação: é o termo usado na procura de ouro nos cursos d'água ou nas areias que faiscam à luz do sol, nos bicames (calhas) de madeira, que trazem na água as areias auríferas para os decantadores.
Os instrumentos usados são: batéias, pás, bicames, peneiras, canoas pequenas, agitadores, etc.


 
O Ouro no Brasil Central

O devassamento e a ocupação do Brasil central, durante o século XVIII, tiveram como base e principal estímulo a atividade mineradora.  Foi a partir da descoberta de ouro em Mato Grosso e Goiás que foram estabelecidos alguns centros urbanos de certa importância, tais como Cuiabá (1727), Vila Boa (1739) e Santíssima Trindade (1752).
"Alguém já observou que os impulsos iniciais para que sertanistas de São Paulo fossem... procurar ouro nas terras do centro e do oeste do Brasil derivaram, em boa parte, do insucesso da gente paulista na tentativa de manter seu domínio na zona das descobertas auríferas que havia feito antes em território de Minas Gerais, onde se sentiu espoliada e desprestigiada... Também assinalaram alguns pesquisadores do passado brasileiro diferença profunda entre o povoamento estimulado pela mineração e o resultante da criação do gado no interior do Brasil.  Aquele, condicionado pela pecuária partia de núcleos do litoral ou de suas proximidades e ia se estendendo para o interior das terras, sem que seus agentes perdessem o contato com os focos de irradiação.  O determinado pela exploração do ouro, ao contrário, atirava os pioneiros para os confins do sertão, interrompendo-se a contigüidade da expansão territorial.  Deste último tipo foi bem característica a ocupação de Goiás e Mato Grosso ."
Embora várias bandeiras preadoras de índios como é o caso da famosa expedição de Raposo Tavares (1648), que destruiu as missões jesuíticas de Itatim, ou das bandeiras de Manuel Bicudo (1660) e Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera (1682) já tivessem penetrado no território matogrossense desde o século XVII, foi apenas em 1719 que se, descobriu ouro na região do rio Cuiabá.  Coube ao sertanista Pascoal Moreira Cabral, percorrendo caminho já devassado por Antônio Pires de Campos, a primazia do achado.  "Aos oito dias do mês de abril de 1719 anos, neste arraial de Cuiabá fez junta o Capitão-mor Pascoal Moreira Cabral com os seus companheiros e lhes requereu a eles este termo de certidão para notícia do descobrimento novo que achamos no ribeirão do Coxipó," diz o documento assinado pelos membros da expedição que, como se vê, elegeram Moreira Cabral como "Capitão-mor" da nova zona de mineração.
Apesar das dificuldades - distância dos centros povoados paulistas, transporte problemático, violências contra os indígenas paiaguás e guaicurus - a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá foi um ponto de partida para novas expedições, mais para o interior.   Em pouco mais de uma década, depois da descoberta, achavam-se em franco declínio as minas cuiabanas e grande parcela da população que para ali tinha acorrido, atraída pelo fascínio do enriquecimento rápido, abandonou Cuiabá, dirigindo-se para Goiás, onde se descobriram novas minas em 1725, ou para o norte de Mato Grosso (bacia do rio Guaporé), onde também se encontraram outras jazidas de metal precioso.
As minas do Guaporé foram localizadas em 1734 através de expedição chefiada pelos irmãos Pais de Barros (Artur e Fernando) e a exploração de ouro na região levou à fundação de inúmeros arraiais, entre eles o de Pouso Alegre, em 1737 (mais tarde Vila Bela da Santíssima Trindade).  Em 1748 o rei de Portugal, D. João V, criou a Capitania de Mato Grosso, cujo território se achava, até então, afeto administrativamente a São Paulo.
"De outra parte, a fundação de Vila Bela estimulou a formação ou a consolidação de alguns outros arraiais em sua zona.  Além do de São Francisco Xavier floresceram, a nordeste e nas proximidades da vila, os arraiais de Ouro Fino, Boa Vista e Nossa Senhora do Pilar.  E a sudeste - no caminho que seguia para Cuiabá - o de Lavrinhas.  Ainda em 1758, com o intuito de se proteger a navegação pelos rios Guaporé-Madeira, o Juiz de Fora de Vila Bela, Teotônio da Silva Gusmão, estabeleceu no rio Madeira (no Salto Grande) a povoação de Teotônio ou de Nossa Senhora da Boa Viagem. . . "
Devemos lembrar que a ocupação de terras do noroeste do Mato Grosso por portugueses e brasileiros trouxe à baila a questão da caducidade do  Tratado de Tordesilhas, que se mostrava totalmente inadequado à demarcação coerente de limites entre as possessões lusitanas e castelhanas.  Tal ocupação foi um dos motivos pelos quais Espanha e Portugal acabaram assinando o Tratado de Madrid (1750) estabelecendo o critério de ocupação efetiva para marcar as fronteiras entre as colônias dos dois países ibéricos.

O Ouro Goiano - Da mesma forma que a região de Mato Grosso, também Goiás já havia sido visitado por bandeiras de caça ao índio, antes da descoberta de ouro.  No século XVII, vários sertanistas por ali estiveram, explorando as bacias do Tocantins e Araguaia, entre eles Manuel Correia, Francisco Lopes, Antônio Pedroso Alvarenga, Sebastião Pais de Barros, Luís Castanho de Almeida, Antônio Soares Pais e Bartolomeu Bueno da Silva.
Sob o comando do filho deste último (também chamado Bartolomeu Bueno da Silva, o segundo "Anhanguera") partiu de São Paulo, em julho de 1722, a bandeira que seria a primeira a encontrar o ambicionado metal em território goiano.  Levava 152 homens, entre os quais vinte índios carregadores, três religiosos e mais 39 cavalos.  Sua rota seguia em direção ao Triângulo Mineiro, passando pelos rios Atibaia, Camanducaia, Moji-Guaçu, Rio Grande, Rio das Velhas e penetrando em Goiás pelo Corumbá.  Durante três anos pesquisou sem grande sucesso, na área da serra dos Martírios.  No dizer do historiador Carvalho Franco, autor de "Bandeiras e Bandeirantes de São Paulo," o Anhanguera "resolveu portanto desandar o caminho, sempre,na mesma faina, vindo afinal a ter no sítio dos Ferreiros, no Rio Vermelho e no Ribeirão das Cabrinhas, quatro léguas da hoje cidade de Goiás, vendo aí o ouro pintar abundante no fundo das bateias.  Bartolomeu Bueno da Silva assegurou então ao seu irmão Simão Bueno que reconhecia ali a paragem em que o primeiro Cañamares vira, antes dos outros, os martírios esculpidos numa pedra alta.  E como somavam cinco ribeiros nos quais havia encontrado o precioso metal, o Anhanguera deu por cumprida a sua missão e regressou a São Paulo."
A notícia do valioso achado logo atraiu inúmeros aventureiros, que se deslocaram principalmente da Bahia e de Minas Gerais (mais tarde, do próprio Mato Grosso), formando vários núcleos de povoamento, tais como Santana (depois Vila Boa de Goiás), Anta, Santa Rita, Água Quente, Santa Cruz de Goiás, Formosa, Cachoeira, Flores e, mais próximas da Bahia, Carmo, São Domingos e São José (Dianópolis).
Em 1744 um alvará real criava a Capitania de Goiás, separando-a de São Paulo.  Em 1746 foi nomeado seu primeiro governador, D. Marcos de Noronha, Conde dos Arcos.
Mais de vinte anos depois de descoberto o ouro matogrossense e goiano, encontraram-se diamantes, primeiro em Goiás (1746), no Rio Claro, depois em Mato Grosso (1747), no norte (distrito diamantino).
Paralelamente à extração aurífera e diamantífera, desenvolveram-se a pecuária e algumas lavouras (feijão, milho, abóbora, batata-doce), inicialmente em termos de pura subsistência, mais tarde com uma característica mais comercial (principalmente o gado).  Embora houvesse uma proibição oficial nesse sentido, logo apareceram também plantações de cana-de-açúcar e molinetes de cachaça na área de Cuiabá (em 1734 já havia pelo menos cinco desses engenhos em funcionamento).
Embora a produção de ouro goiano e matogrossense fosse bem menor que a de Minas Gerais (menos de um terço, no total, segundo Pandiá Calógeras), foi graças a ela que toda a vasta região do centro-oeste brasileiro foi conhecida e ocupada.
 



Brasil, Histórias, Costumes e Lendas / Alceu Maynard Araújo - São Paulo: Editora Três, 2000
Ilustrações de José Lanzellotti escaneadas do livro: Brasil, Histórias, Costumes e Lendas.
Brasil História / Antonio Mendes Jr., Luís Roncari, Ricardo Maranhão - São Paulo: Digitalmídia Editora Ltda, 1995.
Volta para os Tipos Regionais Volta ao Topo