MOÇAMBIQUE
 
Moçambique é dança de origem africana provavelmente de Moçambique, que lhe emprestou o nome. É mais freqüentemente dançado em São Paulo, Minas Gerais e Brasil central. Primitivamente, no Brasil, era dança de salão, levada a efeito nas Casas Grandes dos fazendeiros. Com o tempo transformou-se, deixando de ser um bailado puramente africano, para ser uma mistura de várias danças, confundindo-se, às vezes, com a congada, fandangos, etc. Estas festas são, geralmente, batizadas com nomes de santos. Atualmente, o Moçambique é dançado entre os caboclos. Tomam parte nele vários personagens: o capitão chefe e seu substituto, dois guias, dois tambores, quatro pajens que levam o chapéu de sol do Rei e da Rainha, dois capitães, espadas, coronel, alferes da Bandeira.
Indumentária: calção estreito e fechado nos tornozelos, com guizos em volta das pernas e dos joelhos. Blusa com duas faixas cruzadas ao peito. Touca na cabeça. A calça, blusa e a touca são vermelhas. Os pés descalços.

Instrumentos musicais: viola, violão, cavaquinho, caixa, pandeiro e guizos nas pernas, além da marcação do ritmo pelo bater dos bastões levados pelos dançarinos.
A “escada de São Benedito” é uma das modalidades mais interessantes do Moçambique.

Coreografia: os dançarinos colocam seus bastões em forma de X, formando losangos em esteira a uma distancia relativa ao número de componentes.
Os dançarinos dançam ao longo da esteira sem tocar nos bastões, colocando os pés nos vãos dos cruzamentos dos paus. Aquele que tocar em algum dos bastões é obrigado a retirar-se, sendo substituído por outro. Os dançarinos pulam, agacham-se, sacodem-se em frêmitos. Cantam enquanto dançam. As músicas conservam-se mais ou menos fiéis ao dialeto.

Data de registro: meados do século XX (~1950)
Danças do Brasil / Felícitas. - Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint Ltda., sem/data

Moçambique
Comunidade de Arturos
Belo Horizonte - Minas Gerais

Intimamente ligado aos Congos, o Moçambique, segundo alguns, era dançado já na África Negra, e, para outros, nasceu em Vila Rica. Seus dançarinos são temidos e o folguedo é tido como atividade mágica. Cortejo que vagueia pelas ruas em determinadas festas, não possui entrecho dramático, sendo assim identificado aos Maracatus pernambucanos. Com exceção da Rainha e Porta-bandeiras, mulheres não dançam Moçambique.

O cortejo se organiza com os dois Porta-estandartes, na frente. Em seguida, vêm os Reis; atrás dele, os instrumentistas; e, no fim, os dançarinos, sempre de dois em dois. Quando param para dançar, os Porta-estandartes voltam-se para os dançarinos e os Reis também, colocando-se ou ao lado ou na frente dos estandartes. Os instrumentistas ficam aos lado das figuras principais.

A música do Moçambique se chama linha ou ponto e segue o esquema de solos, terças e coros, às vezes atingindo o falsete. Há uma introdução, na qual os moçambiqueiros entoam a melodia sem compromisso rítmico preciso, aproximando-se de um cantar declamado.

Outro dos movimentos característicos do Moçambique é quando o corpo faz uma curvatura que se inicia na cabeça, vai até os ombros e, a partir daí, toma todo o corpo, que se torna abaulado.

O pé direito carrega mais gungas – latinhas com chumbo por dentro, amarradas com correias de couro às pernas dos dançarinos – que o esquerdo, geralmente quatro, e o som é mais grave. É ele quem marca o tempo forte, que “chama”. Com três gungas, o pé esquerdo “responde” em repique que é uma variação de terceira ou tercina.

Há variações do “chamar” e “responder”.
Exemplos: abertura arrastando pelos dedos e metatarsos, que se fecha “chamando” com todo o pé, com ênfase da força do calcanhar; entrada de um e outro, pelo calcanhar; “avanço” e “chamada” com todo o pé direito, enquanto o pé esquerdo, atrás, em ponta, marca o repique.

Não há uma ordem predeterminada das danças. Os dançarinos mais hábeis mudam a coreografia e os demais os seguem. Entre uma dança e outra há sempre a louvação aos santos, em solo e coro, num recitativo que é gemido e não cantado. Os textos são religiosos, vagamente tradicionais e podem estar relacionados à parte representativa das danças.

O que caracteriza o movimento da guarda do Moçambique da comunidade dos Arturos, em Minas Gerais, é o molejo dos joelhos e a intenção, presente em todo o corpo, de ir ao fundo da terra, uma metáfora ao mastro que se finca.
Seu movimento mais marcante é o avanço e o pequeno recuo, cujas raízes estão numa lenda que conta que, num confronto entre duas guardas, um dos capitães deixou cair seu bastão numa moita, transformando-o em uma cobra. O capitão da guarda que iria passar pelo local, então, determinou que se tomasse muito cuidado. Daí os movimentos que parecem averiguar os perigos do caminho.

Há momentos em que uma alternância de movimentos das omoplatas provoca uma torção externa que penetra no corpo e se acentua pela força de tração das gungas.
O bater das gungas, somado à pulsação, libera os braços, a partir dos ombros, ou os retém, a partir dos cotovelos, ao recolher e fechar das mãos.

Danças Populares do Brasil -Projeto Cultural Rhodia - Publicação Rhodia S.A. - 1989
Fotos: Romulo Fialdini

 
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