Saber um pouco mais sobre a Amazônia:

 
 

Flor da vitória-régia

A índia Moroti atirou sua pulseira ao rio para mostrar às amigas que sua grande paixão, o guerreiro Pita, a traria de volta como prova de amor.
O guerreiro caiu no capricho da moça, mergulhou e não voltou. Meio arrependida, meio desesperada, a índia mergulhou atrás do guerreiro amado. Adeus romance.
No dia seguinte, a tristeza viu brotar uma flor gigante. Sua parte central, branca, foi associada a Moroti. As pétalas avermelhadas, ao redor, seriam o bravo Pitá.
Assim, atesta a lenda, a maior flor do mundo surgiu de uma história de amor.
Séculos depois, o inglês Richard Schomburgk, que não era sapo nem príncipe, mas um botânico esperto, aproveitou a beleza e o gigantismo daquela flor para fazer média com sua rainha. Nem Moroti nem Pitá. A maior flor do mundo, que vive em águas amazônicas, ficou conhecida internacionalmente por vitória-régia, em homenagem à rainha da Inglaterra.

Mas nem só de fazer média com seus soberanos vivem os interesses estrangeiros na Amazônia, área de maior potencial ecológico do planeta e que concentra, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), metade da biodiversidade mundial – como é chamado o conjunto de plantas, animais e insetos, enfim, o que tem vida. A vitória-régia é apenas uma das dezenas de milhões de espécies desse ecossistema, entre vegetais, animais, peixes, insetos. “Apenas” 30 mil plantas têm nome e RG, entre elas 5 mil tipos de árvores. A América do Norte, como comparação, tem 650. Já foram encontradas numa única planta oitenta modelitos diferentes de formiga, o dobro das espécies catalogadas nas ilhas da rainha Vitória. A água que corre durante 1 segundo na foz do Rio Amazonas daria para um dia de consumo de uma cidade com 2 mil habitantes. De cada dez copos d’água do mundo, dois estão nos rios da floresta, onde nadam cerca de 3 mil espécies diferentes de peixes, trinta vezes mais que em toda Europa. Na mata de Moroti e Pitá, podem-se encontrar um macaquinho do tamanho de uma lata de cerveja (e que ainda tira piolho de índio) ou um besouro de 20 centímetros.

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Paulo Donizetti / Amazônia o alvo da maior cobiça do mundo (colaboração Glauco Faria) in Revista Fórum n.º 1, agosto de 2001, São Paulo: Editora Publisher Brasil.
Fotos de Frederico Mendes / Revista Geográfica Universal - Bloch Editores S.A. - setembro de 1978