A gruta dos Amores

Na baía de Guanabara há cerca de uma centena de ilhotas, ilhas. Três são as mais conhecidas: Governador, Paquetá, Flores. Nenhuma delas é mais encantadora do que a ilha de Paquetá, palco onde se desenrolou o romance clássico de Joaquim Manuel de Macedo – A Moreninha. Em Paquetá, onde tudo é encanto, é sonho, é devaneio, há também lendas. Uma delas é a da Gruta dos Amores.

Era no tempo dos tamoio que Itanhantã, jovem forte como pedra, ia constantemente pescar e caçar nessa ilha.
Remando em sua ligeira ubá, ali apanhava os peixes para sua tribo ou caçava com sua flecha veloz e certeira as aves ou caças abundantes. Itanhantã, após a pesca ou caçada, repousava numa loca de pedra; numa sombra amena e acolhedora dessa gruta.
Uma jovem indiazinha, no viço de seus quinze anos, quantas vezes não fora apanhar a caça para o jovem caçador. E ele nunca se apercebera do olhar envolvente da indiazinha gentil. Quanta e quantas vezes ela não repetira isto. Itanhantã não lhe dava a mínima atenção.
A indiazinha começou a curtir sua dor. Subia no alto da pedra que formava a gruta e ao vê-lo lá embaixo, repousando na sombra, punha-se a chorar. Suas lágrimas molhavam a pedra. A indiazinha pensou em espantar o seu desengano, cantando. E eram os mais ternos cantos que até hoje se ouviram em Paquetá.
Diariamente, logo que o dia amanhecia, a indiazinha subia na pedra e cantava esperando Itanhantã chegar para pescar, caçar e descansar. E todos os dias suas lágrimas caíam na pedra. Seu canto e suas lágrimas não amoleceram o coração empedernido de Itanhantã, mas transpassaram a pedra e um certo dia caíram sobre os olhos do caçador adormecido. Ele se assustou e saiu correndo para sua ubá, quando avistou a indiazinha e disse: “cunha-porã”, moça linda.
Noutro dia, ao voltar àquele local onde sempre repousava, prestou atenção na linda voz da indiazinha. No dia seguinte, apaixonou-se por Poranga – a indiazinha.
E Itanhantã subiu ao alto da pedra da gruta, tomou Poranga nos seus braços fortes e se casaram. Foram felizes o resto da vida. E as lágrimas de Poranga se transformaram na fonte d’água que existe na Gruta dos Amores.
E quem quiser encontrar um amor para a vida inteira, basta tomar, junto com a pessoa amada, umas gotas da água da Gruta dos Amores...
Texto de Alceu Maynard Araújo

BRASIL, histórias, costumes e lendas - Alceu Maynard Araújo.  São Paulo: Editora Três Ltda., s/data
Ilustração: José Lanzellotti

 
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