Entes Fantásticos: Sul

Angoera
Boi Vaquim
Mãe-do-Ouro
Porco Preto



Angoera
Mito do Rio Grande do Sul na região missionária. Angoera é o fantasma, a visão, no idioma tupi, forma contrata de Anhagoera. Dizem que foi indígena amigo dos padres jesuítas e um dos fiéis. Guiou-os para as terras melhores, ajudando a construir igrejas e casas. Era homem sisudo, grave, secarrão. Foi batizado com o nome de Generoso e ficou alegre, vivo, sacudido. Morreu, mas sua alma não abandonou os pagos onde viveu. Continua intrometido na vida da campanha gaúcha, divertindo-se sem cessar. 
Angoera explica todos os rumores insólitos, estalos nos móveis novos, forros do teto, tábuas do chão, vimes dos balaios, movimentos das chamas de candeias e velas, sopros, misteriosos sussurros.
J. Simões Lopes Neto (Lendas do Sul, Pelotas, 1913) explica:
“E muitas vezes, até o tempo dos Farrapos, quando se dançava o fandango nas estâncias ricas ou a chimarrita nos ranchos do pobrerio, o Generoso intrometia-se e sapateava também, sem ser visto; mas sentiam-lhe as pisadas, bem compassadas no rugo das violas... e quando o cantador era bom e pegava bem de ouvido, ouvia, e por ordem do Generoso repetia esta copla, que ficou conhecida como marca de estância antiga, sempre a mesma:

   Eu me chamo Generoso,
   Morador em Pirapó:
   Gosto muito de dançar
   Co’as moças, de paletó.”
 
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Boi Vaquim
Trata-se de um ser místico do Rio Grande do Sul, descrito pelo historiador Contreiras Rodrigues.
É um boi alado, com asas e guampas de ouro, levantadas como as vacas, portanto meio avacado. Mete medo aos campeiros, porque chispa fogo nas pontas das guampas e tem os olhos de diamante. É preciso muita coragem para laçá-lo, braço forte, cavalo bom de pata e de rédeas. Supõe Contreiras Rodrigues que o mito tivesse vindo do norte, através das tropas de Sorocaba. 
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Mãe-do-Ouro
É um mito, inicialmente meteorológico, ligado aos protomitos ígneos, posteriormente ao ciclo do ouro.
Os registros subseqüentes indicam sua transformação. Vale Cabral: “Mulher sem cabeça, que habita debaixo da serra do Itupava, entre Morretes e Antonina, província do Paraná. Tem a seu cargo guardar as minas de ouro. Onde ela está, é prova evidente que há ouro, e por isso tomou o nome. Há poucas pessoas da localidade que afirmam tê-la visto.”
Na região do São Francisco é a zelação, estrela cadente, serpente-mãe-do-ouro, encantada.
Em São Paulo não há forma, mora nas grotas, persegue homens, e estes preferidos deixam a família, seduzidos como por uma sereia; citam-na como uma bola de fogo de ouro.
No Rio Grande do Sul é informe, agindo com trovões, fogo, vento, dando o rumo da mudança.
Noutra versão, a mãe-do-ouro passeia luminosa, pelos ares, mas vive debaixo d’água, num palácio. 

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Porco Preto
Superstição do Paraná, Campo Largo. Há outra aparição temida - o porco preto. Ninguém sai de casa em noite escura, que não o encontre na estrada. Enorme, ataca as pessoas e os animais. Nem pau, nem pedra, nem bala o atingem. Corre atrás das pessoas, e só desaparece quando entra na vila.
(Marisa Lira, Migalhas Folclóricas, 84, ed. Laemmert, Rio de Janeiro, 1951).
Comum na França, Provença, em Portugal.
Ver Porca dos Sete Leitões, Região Sudeste.



Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data

 
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