O Boto


A inexistência, no Brasil dos séculos XVI, XVII e XVIII, de entidades com atributos do cetáceo faz supor ser a lenda de origem branca e mestiça, com projeção nas malocas indígenas.

Personagem de grande importância na mitologia amazônica, principalmente no Pará, o boto é retratado como sedutor irresistível e grande fecundador. À noite, transforma-se em um moço bonito e namorador, branco ou vestido de branco, que bebe muito e vai às festas, onde dança com as moças e depois as seduz.
De madrugada, volta para o rio e se transforma em boto de novo.
As mulheres seduzidas engravidam e têm filhos normais, pelo que são atribuídos ao boto muitos filhos sem paternidade reconhecida.
De olfato muito apurado, o boto vira as canoas que transportam mulheres menstruadas para possuí-las.
Às partes do corpo de um boto abatido são atribuídas virtudes mágicas, curativas ou afrodisíacas. O olho, seco e especialmente preparado é usado para seduzir pessoas, homem ou mulher, olhando-se através dele.
O boto também pode se transformar numa moça muito bonita que atrai homens até o rio e os leva para o fundo, de onde nunca mais voltam.

Outras manifestações do boto não têm caráter sexual e incluem malefícios como afugentar os outros peixes e estragar a pescaria ou causar doenças em que a pessoa fica de cama, com febre alta, e é curada com benzeduras, rezas e tratamentos com ervas.



Grande Enciclopédia Larousse Cultural - São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1988.
Ilustrações de J. Lanzellotti
 
 
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