Nordeste: Artesanato de
Mestre Vitalino
Em Caruaru, cidade pernambucana, a poucos quilômetros do Recife, existe uma feira famosa, cuja separação dos animais é folclórica. Em um canto ficam "os bichos de dois pés" (galinhas, patos), em outro canto ficam "os bichos de quatro pés" (bodes, carneiros, bois).
Há também montes e montes de cerâmica utilitária e bancas de cerâmica figureira.
Na feira de Caruaru, um dia, apareceu um menino - Vitalino Pereira dos Santos - cuja obra ingênua, no massapé pernambucano, tornou-se uma significativa mensagem de brasilidade, que tem alcançado os mais distantes cecntros culturais do mundo. As figuras de Vitalino são peças de museus e coleções particulares, de estudiosos do folclore, de todos que amam a arte popular.

Vitalino Pereira dos Santos, Mestre Vitalino, consagrou-se com sua arte de fazer bonecos em Caruaru, onde nasceu, perto do rio Ipojuca, em 1909.
Seu pai, humilde lavrador, preparou o forno para queimar peças de cerãmica que sua mãe fazia, para melhorar o orçamento familiar.
Sua mãe artesã, preparava o barro que ia buscar nas margens do rio Ipojuca. Depois, sem usar o torno, ia fazendo peças de cerâmica utilitária, que vendia na feira. Levava a cerâmica nos caçuás (cestos grandes) colocados nas cangalhas do jegue (burrico).

Ainda pequeno, Vitalino ia modelando boizinhos, jegues, bonecos, pratinhos com as sobras do barro que sua mãe lhe dava, para que não atrapalhasse e ao mesmo tempo se divertisse.
Quando a mãe colocava as peças utilitárias para "queimar" no forno, ele colocava no meio as suas figurinhas, suas miniaturas.
Os seus pais iam à feira semanal, o pai carregava os frutos do trabalho agrícola, a mãe carregava o jegue com os caçuás, para levar a terra trabalhada - a cerâmica utilitária.
O menino Vitalino levava o produto de sua "reinação", da sua brincadeira e vendia.

Por volta de 1930, com 20 anos de idade, Vitalino fez os seus primeiros grupos humanos, com soldados e cangaceiros, representando o mundo em que vivia.
Sua capacidade criadora se desenvolveu de tal maneira que acabou se tornando o maior ceramista popular do brasil.
Fazia peças de "novidade" - retirantes, casa da farinha, terno de zabumba, batizado, casamento, vaquejada, pastoril, padre, Lampião, Maria Bonita, representando seu povo, o seu trabalho, as suas tristezas, as suas alegrias. Retratava em suas peças o seu mundo rural.

Esta foi a grande fase do Mestre Vitalino, que imprimia no massapé a sua vivência.
Mais tarde começou a fazer obras sob encomendas: dentistas, médicos operando... Passou também a pintar as figuras para agradar aos compradores, da cidade, que tentavam "inspirar" o Mestre.
Carimbava as suas peças mas, a partir de 1950, analfabeto que era, aprendeu a autenticar a sua obra, com o seu nome.

Mestre Vitalino Pereira dos Santos faleceu em 1963 deixando escola e continuadores. Seus filhos, Severino e Amaro, continuam a sua obra, recriando no barro os personagens do mundo nordestino.

Casamento no sertão
Vaqueiro
Boi
Casal de cangaceiros
 
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Brasil, Histórias, Costumes e Lendas / Alceu Maynard Araújo - São Paulo: Editora Três, 2000
Ilustrações de José Lanzellotti