Trajes
Cangaceiros

Ilustração: José Lanzellotti 
 Chapéu tipo cangaceiro - 1934
Mostra do Redescobrimento - São Paulo - 2000 
Bornal - 1931
Tecido e botões de madrepérola
Mostra do Redescobrimento - São Paulo - 2000
Coleção Frederico Pernambucano - Recife
Traje do Cangaceiro

O cangaceiro aparelhado era algo de notável. Vestia roupas de tecidos resistentes, onde predominavam o brim cáqui e o mescla azul. Calças ao feitio matuto e blusão tipo túnica, com mangas compridas. Chapéu de couro ou feltro, com aba larga, calçado de alpercatas, também chamadas de "alpercatas ferradas", feitas de sola macia, bem curtida, cobrindo todo o pé, terminando por um orifício pelo qual aparecia o dedo grande e o vizinho; calcanhar descoberto, para facilitar os movimentos, protegido por uma correia abotoada de lado com uma fivela de metal.

Em geral, tinham por baixo das blusas cartucheiras das armas curtas: pistolas, parabéluns ou revólveres. Havia alguns deles que carregavam duas cartucheiras duplas na cintura e mais duas atravessadas. As duplas levavam 99 ou 101 balas. As simples, 50 balas. A verdade é que cada um levava comsigo de 9 a 18 quilos de munição; cobertos de lã, mais conhecidos como "cobre corno", em forma de charuto, forrando bem o peito, que serviam no inverno para barracas, sob impetuosas chuvas; dois bornais com as mesmas dimensões, um para alimentos, outro para roupa e alguma munição, trançados sobre o peito e caindo aos lados; cabaça ou borracha para água, cantil com cachaça e uma capanga de couro curtido ou mesmo de mescla grossa, quase preta, conhecida por "farinha-com-pólvora". Nessa bolsa, de cinco compartimentos, o cangaceiro carregava varios objetos de uso pessoal, do toucador à devoção. Na primeira, as orações, crucifixo, patuás, estampas de santos, fitas e uma vela. Na segunda, os remédios, água oxigenada, água boricada, iodo, pomadas, álcool, ácido fênico (para combater a dor de dentes), algodão, gase, esparadrapo, guaraína que combatia a dor, a gripe, o resfriado e não atacava o coração. Na terceira a brilhantina, a loção Dirce, Petrolina Minâncora (o tônico capilar por exelência, o verdadeiro elixir da longa vida dos cabelos), a pasta de dentes. Na outra, jóias e dinheiro, anéis de todos os tipos e tamanhos. Na ultima, um pedaço de fumo de corda, a palha de milho para embrulhar o cigarro, o cachimbo de barro e o fósforo.

Nada podiam esquecer. Passavam dias e dias sem beber água, tomando cachaça de ração, chupando rapadura, assando carne na ponta das facas. Muitas vezes, devido à proximidade do inimigo, não podiam acender fogo, temendo apontar o coito ou esconderijo, no meio do carrasco cerrado.

O equipamento do cangaceiro ficava acima da cintura, facilitando-o nos movimentos: andar, correr, pular obstáculos, montar a cavalo e rastejar.

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Cangaceiros, Coiteiros e Volantes / José Anderson Nascimento.  -  São Paulo: Ícone  Editora, 1998.
Colaboração: Alexandre Nogueira.

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