Trajes
nos Primeiros Séculos
“... E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito... Pardos, nus, sem cousa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.”
   Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel

 
 
 

Nus, assim os portugueses encontraram os habitantes desta terra, que um dia se chamaria Brasil. 
E os novos colonos usaram roupas impróprias para o clima brasileiro durante vários séculos, do XVI ao XVIII: veludo, seda, damasco.


 
 
 

Durante este período predominou entre as mulheres, o uso de mantilhas por todo o Brasil, dando um ar mais oriental que europeu.


 
 
 

Dentro de casa, nas horas de descontração, é que homens, mulheres e meninos desvencilhavam-se dos excessos europeus no vestuário.
 


 
 
 
 
 
 
 

Os meninos andando nus ou de sunga-nenê. Os adultos, de chinelos sem meia; de pés descalços; os senhores de engenho, de chambre de chita por cima das ceroulas; as mulheres, de cabeção (peça do vestuário feminino).


 

A falta da adaptação do trajo brasileiro ao clima prolongou-se, porém, ao século XIX. Acentuou-se, mesmo. Homens, mulheres e até meninos continuaram a vestir-se para a missa, para as visitas e para ir ao colégio como se um eterno luto de mães os obrigasse ao preto felpudo, espinhento e solene. Os homens, de cartola desde sete horas da manhã.

Até os princípios do século XX os estudantes de direito em São Paulo e Olinda, os de medicina no Rio e na Bahia, os médicos, os  professores, só achavam jeito de andar de cartola e sobrecasaca preta. Um ou outro chapéu-do-chile mais afoito branquejou no meio desse preto ortodoxo de cartolas.

A transigência dos doutores e dos fidalgos com o clima tropical foi se fazendo de baixo para cima: pelas calças brancas. Desde meados do século XIX que começaram a usá-las na Bahia e no Recife os armazenários de açúcar ou de café, os altos funcionários públicos, os médicos, advogados, professores. De modo que o negro Calisto, apresentando-se aos seus alunos de cartola, sobrecasaca preta e calças brancas, apresentava-se ortodoxamente vestido.
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Volta Trajes no Brasil
Vai para Século XIX
Casa-grande & senzala em quadrinhos / Gilberto Freyre; desenhos de Ivan Wasth Rodrigues; quadrinização de Estevão Pinto. - Rio de Janeiro: Ed. Brasil-América, 1985.
Terra Brasileira