Superstições
 
Resultam essencialmente do vestígio de cultos desaparecidos ou da deturpação ou acomodação psicológica de elementos religiosos contemporâneos, condicionados à mentalidade popular.
São milhões de gestos, reservas e atos instintivos, subordinados à mecânica do hábito, como gestos reflexos.
As superstições participam da própria essência intelectual humana e não há momento da história do mundo sem sua inevitável presença. A elevação dos padrões de vida, o domínio da máquina, a cidade industrial ou tumultuosa em sua grandeza assombrosa, são tantos viveiros de superstições, velhas, renovadas e readaptadas às necessidades modernas e técnicas. Todas as profissões têm o seu “corpus” supersticioso, e aqueles que confessam sua independência absoluta da superstição são porque não chegaram no instante da confidência reveladora.
O Visconde de Santo Tirso: “Era supersticioso Napoleão, e era supersticioso Bismarck. É livre de toda superstição qualquer jumento, o que prova que a libertação do espírito não é incompatível com o comprimento das orelhas”. (De Rebus Pluribus, 158, Lisboa, 1923).
A superstição é sempre de caráter defensivo, respeitada para evitar mal maior ou distanciar sua efetivação. Os sinais exteriores são os amuletos que, incontáveis, transformaram-se em adornos e jóias e vivem na elegância universal dos nossos dias. Essa legítima defesa estende-se às zonas mais íntimas do raciocínio humano e age independente de sua ação e rumo. A própria etimologia latina mostra que superstição é uma sobrevivência em sua preservação.

As superstições, como os pecados, podem dar-se por pensamentos, palavras e atos. 
Por exemplo:
Por pensamento – Fazer três pedidos quando se vê uma estrela cadente;
Por palavras – dizer Isola! Quando alguém se referir a um malefício acontecido a outra pessoa;
Por atos – levantar da cama com o pé direito para que o dia lhe seja benéfico.

A idéia da superstição é ambivalente, pois existe a crença de que há sempre meios de anular a força positiva ou negativa de qualquer elemento. Se isso acontece, deve-se fazer aquilo para prevenir o mal, ou realizar tais práticas ou trazer objetos especiais.
Ex.: Quando a gente encontra ou fala com pessoa que dá azar, convém bater na madeira ou fazer figa com a mão. Daí o apelo a talismãs, amuletos, esconjuros, orações e todo um arsenal supersticioso, muitos dos quais servem não só para nos defender do azar ou mau-olhado, como para projetá-lo nos inimigos ou desafetos, como os espelhinhos dos chapéus dos dançadores de Reisado.

Embora as crenças populares sejam supersticiosas, tudo entrosado no terror primitivo, não se deve confundir superstição com crendice. Por exemplo, acreditar em bruxas, almas penadas, fantasmas, não é superstição. Superstição é quando uma pessoa atribui a certos fatos, ou criaturas, animais ou coisas, poderes maléficos ou benéficos, dependendo de  circunstâncias variáveis. Ex.: encontrar um gato preto não tem importância, mas se ele correr na nossa frente é que dá azar.
 

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Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
Folclore Brasileiro / Nilza B. Megale- Petrópolis: Vozes, 1999.