Jogos Infantis: O Pião
            Brinquedos do Folclore Brasileiro
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A respeito do jogo do pião, muitas quadras que contam o folclore do rodar pião são exatamente iguais ou quase iguais aos presentes na memória portuguesa.
Teófilo Braga (apud Cascudo, 1984, p. 59) registra a seguinte adivinhação em versos portugueses, conhecida também em todo o Nordeste onde o pião é o motivo central:
Para andar lhe pus a capa
E tirei para andar
Que ele sem capa não anda
Nem com ela pode andar
Com capa não dança
Para dançar se bota capa
Tira-se a capa para dançar
A capa é apenas o cordão que enrola o pião.
Sérgio Alexandre di Marco (1988, p. 70), do Centro de Pesquisa e Estudos Folclóricos de Olímpia, cita adivinhas sobre o pião, localizadas em Olímpia (São Paulo), similares às encontradas em Portugal.
1. Estando nu, eu não danço
me vestem para dançar
Mas me arrancam a capa
Para me verem brincar

2. É de madeira e ferro
Carrega tripa por fora
Quando brinca com ele
Pula, canta, até chora

3. Ele, com capa, não anda,
Sem capa não pode andar,
Para andar, bota-se a capa
Tira-se a capa para andar


Cascudo (1984, p. 344) confirma, também, a procedência européia deste jogo:
O pião é um pequeno objeto feito de madeira, de preferência a brejaúva, tendo na ponta um prego – ferrão – implemento da lúdica infantil, do jogo do pião, atividade recreativa introduzida no Brasil pelo povoador branco.

Tudo indica que os portugueses divulgaram este jogo nos primeiros tempos da colonização brasileira. A existência do pião em Portugal, em tempos passados, é confirmada por Teófilo Braga, no Cancioneiro de Resende e nas Ordenações Afonsinas, que cita, entre alguns jogos de sociedade do século XV, o pião:
É o jogo do piam
Favor se lhe de voar.
(apud Lima, 1966, p. 275)


A origem remota do jogo do pião, segundo d’Allemagne (s.d., p.35), está entre os gregos e romanos. Callimaque Pittacus, que morreu em 579 aC, já falava de um pião que fazia virar com um chicote. Os romanos conheciam também este jogo, uma vez que Horácio falou dos trochus. Parece que entre os romanos o pião já era um jogo favorito das crianças. Ao invés de trabalhar Pérsio só queria rodar seu pião de madeira. Virgílio, no Livro III, da Eneida, designou o pião quando disse: Volitans sub verbere turbo.


Entre os taulipáng são encontrados piões que zunem, elaborados em forma graciosa, com uma pequena totuma (fruto) redonda e oca, com uma abertura mais ou menos redonda de um lado. Em ângulo reto é atravessado por um palito de madeira, duro e vermelho, que é fixado com um pouco de cera negra.
Variantes de totuma como as que fazem zumbidos não funcionam com cordão. No alto do Rio Negro, são giradas com as duas mãos, em área plana, produzindo um som opaco.
 

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Jogos Infantis / Tizuko Morchida Kishimoto – Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.
Menino jogando pião: Ilustração de J. Lanzellotti, publicada em Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data.
Competição de pião:  ilustração de Robson Minghini, publicada no Calendário 2003 da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
Terra Brasileira