Embaixadas
O envio das embaixadas, imemoriais e universais, devia constituir centro de interesse para o folclore, como determinante de festas populares, exibição das curiosidades típicas, desfile de todos os orgulhos locais.
A narrativa das embaixadas históricas é documento vivo para o folclore. Os negros africanos, decorrentemente, conheceram e usaram, até abusaram das embaixadas, com o aparato negro, impressionador e sem fim. No séc. XVIII mandaram os soberanos negros embaixadas ao Brasil (1750 e 1795), esta em nome do Rei Dagomé. Eram dois embaixadores, um faleceu na Bahia e o outro regressou, com dois padres, com o intuito de converter ao catolicismo o real amo. Em 1824 o Rei do Bari enviou um embaixador para reconhecer a independência do Brasil. O conde de Nassau recebera, na primeira metade do séc. XVII, embaixadas africanas, com representações, danças, todos os elementos protocolares da época.

A embaixada continua vivendo nos autos tradicionais de origem negra ou predominando nos elementos negros que a conservam. Congos ou Congada têm o maior centro de interesse no assunto da embaixada. Não deve esse nome ser usado como sinônimo de um auto ou de uma dança dramática. A embaixada é a parte inicial ou central do auto, um dos temas característicos, constituindo o recado ou a mensagem existente em certos autos de Portugal. É uma divisão de certos autos (congadas, cristãos e mouros) e não o título que possa abranger toda a encenação.
“A embaixada destina-se a anunciar a ordem da realização do espetáculo e a convidar o público a assistir. Constituem-na três ou quatro homens, trajando à antiga, calção e meia, sapato, capa, chapéu de dois bicos com plumas, espadim, mais ou menos o trajo do fidalgo do séc. XVII, a que o povo chama vestido de príncipe. Os embaixadores, montados a cavalo, acompanhados de outro cavaleiro menos luxuosamente vestido, o recado, pelas 10 ou 11 horas do dia do espetáculo dirigem-se à porta da igreja paroquial da freguesia, onde ele se realiza, a saudar o patrono ou orago e o santo festejado nesse dia”.
(Luís da Silva Ribeiro, Algumas Palavras Sobre o Vilão do Teatro Popular da Ilha de São Miguel, 4, Angra do Heroísmo, 1945).
Esse processo lusitano, originado nos bandos para a proclamação, ilustra a primeira fase do auto, ainda vivo e contemporâneo no Brasil.
 

Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiroo: Ediouro Publicações S.A. sem data
 
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