Conto popular
É um relato oral e tradicional de contornos verossímeis e também ocorrendo dentro do maravilhoso e do sobrenatural. Pode mencionar fatos possíveis, como também referir-se a animais dotados de qualidades humanas e episódios com abstração histórico-geográfica. O conto é de importância capital como expressão da psicologia coletiva no quadro da literatura oral de um país. As suas diversas modalidades, os processos de transmissão, adaptação, narração, os auxílios da mímica, entonação, o nível intelectual do auditório, sua recepção, reação e projeção, determinam o valor supremo como um dos mais expressivos índices intelectuais populares. O conto ainda documenta a sobrevivência, o registro de usos, costumes e fórmulas jurídicas esquecidas no tempo. A moral de uma época distante continua imóvel no conto que ouvimos nos nossos dias.

Existem várias classificações dos contos populares. Uma das mais conhecidas é pelo método Aarne-Thompson, que os divide em três grandes grupos: Contos de animais, Estórias populares e Gracejos e anedotas. Preferimos, no entanto, adotar a classificação dada pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo em seu Dicionário do folclore brasileiro, que é a seguinte:

Contos de encantamento
Estórias de fadas e duende, caracterizadas pelo sobrenatural e maravilhoso. São os Contos da Carochinha, Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria, A Bela Adormecida, Branca de Neve, o Pequeno Polegar, Gata Borralheira, etc.

Contos de exemplo
São contos morais, sempre com ação doutrinária. Apresentam sempre casos edificantes.
Ex.: O filho do pescador, A menina vaidosa, O amor-perfeito, etc.

Contos de animais
São as fábulas, em que os animais são dados de qualidades, defeitos e sentimentos humanos. Ex.: O gavião e o urubu, A raposa e as uvas, O pulo do gato, etc.

Contos religiosos
Caracterizam-se pela presença ou interferência divina. Não se localiza, como a lenda.
Ex.: Jesus e os lavradores, Deus é bem bom, O chapéu do escrivão, etc.

Contos etiológicos
Explicam a origem de um aspecto, forma, hábito, disposição de um animal, vegetal. 
Ex.: A maçarapeba ficou com a boca torta por ter zombado de Nossa Senhora; A festa no céu, que explica porque o casco do cágado é todo em pedaços; Os miosótis, que se tingiram com a cor dos olhos de Maria, Jesus e o tatu, etc.

Contos acumulativos
Também denominados “lengalenga”, são contos nos quais os episódios são sucessivamente encadeados, com ações e gestos que se articulam em longa seriação. São os “contos de nunca mais acabar”. Eles têm característica de uma longa parlenda, contada e recontada para divertir as crianças. Um exemplo é o que tem o título de “Papai comprou um cabrito por cinco mil réis”. Começa assim: Um cabrito, um cabrito que meu pai comprou por duas moedas. Conta depois, que veio o gato e comeu o cabrito, que veio o cão e mordeu o gato; assim até terminar e então diz: “Veio aquele que é santo e matou o anjo da morte, que matou o magarefe, que matou o boi, que bebeu a água, que apagou o fogo, que queimou o pau, que bateu no cão, que mordeu o gato, que comeu o cabrito”. 
Neste estilo estão: A mosca na moça, O macaco e a espiga de trigo, Cadê o toicinho que estava aqui, etc.

Contos de adivinhação
Apresentam um enigma sob a forma de estória, resultante do processo de associar e comparar as coisas pela percepção de semelhanças e diferenças.

Anedotas
Ou popularmente “Piadas”, são contos que visam provocar jocosidade ou ridicularidade. São relatos sintéticos de uma aventura, cujas características principais se acham na sua comicidade ou inesperabilidade do desfecho.
Ex.: Voluntários, O recruta, etc. Em geral a Anedota pode ser classificada como: a de salão (fina) e a que não é de salão (apimentada). Dela se serviu Cornélio Pires para valorizar o caboclo brasileiro.

“Causos”
São episódios acontecidos com contadores de estórias enfeitadas pela fantasia, sobretudo as de caçadores e pescadores famosos pelas suas patranhas. Os tropeiros, os vaqueiros e os peões de fazenda são extraordinários contadores de “causos”, nos quais se misturam elementos míticos e lendários. Via de regra, são o personagem principal, outras vezes, porém, assistiram o episódio.
Ex.: O pescador que perdeu o relógio e o encontrou, anos depois, funcionando perfeitamente num galho de uma árvore.
 
 

Folclore Brasileiro / Nilza B. Megale- Petrópolis: Editora Vozes, 1999.
 
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