Chegança
Auto popular brasileiro do ciclo do Natal. O mesmo que Cristãos-e-mouros.

A chegança é representada como cenas marítimas, culminando pela abordagem dos mouros, que são vencidos e batizados. Os episódios mais curiosos são a descoberta do contrabando dos guardas-marinha, as lutas e brigas entre oficiais, a tempestade, as canções líricas, etc. Convergem abundantemente quadrinhas populares.
Na Paraíba a chegança denomina-se Barca. A chegança é relativamente recente no Rio Grande do Norte. Sua primeira representação se realizou no Teatro Carlos Gomes, Natal, na noite de 18 de dezembro de 1926 e foi posteriormente encenada no Bairro das Rocas. Sua popularidade data de 1926. Do teatro passou à rua. Jamais possui a tradicionalidade do fandango e do bumba-meu-boi. 
Na chegança alagoana não há figuras do Ração e do Vassoura nem dos dois guardas-marinha. O capelão responde pelas despesas da comicidade. 
A orquestra é composta de instrumentos de percussão, pandeiros (em Maceió), caixa e pequeno bombo (Natal).
Em Alagoas apresentam também cheganças unicamente com elementos femininos.

Em Portugal era dança no séc. XVIII, proibida por D. João V em maio de 1745, sob pena de prisão no Aljube e no Tronco. Era extremamente lasciva e sensual, mas se tornara popularíssima e o povo cantava: 
“Já não se dançam cheganças / Que não quer o nosso rei, / Porque lhe diz Frei Gaspar / Que é coisa contra a lei”. (Júlio Dantas, O Amor em Portugal no Século XVIII, 161, Porto, 1917). O Frei Gaspar citado é Frei Gaspar da Encarnação, franciscano, amigo do rei, ex-reitor da Universidade. 
Era dança de par solto, “ancas contra ancas, peneirando-se, coxas contra coxas”. 
Como sucedeu como fandango, a chegança no Brasil se transformou em auto. Guilherme Melo divide em chegança dos marujos, e chegança de mouros, ou chegança propriamente dita.
 

Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data
 
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